Definição

O fígado é o segundo órgão em tamanho do corpo e se localiza abaixo do pulmão direito, dentro da cavidade abdominal. O órgão possui diferentes funções, que vão desde o armazenamento de energia, sob a forma de nutrientes, e produção de bile e proteínas, entre outras, até a metabolização de substâncias tóxicas ao organismo. O câncer primário do fígado é o tumor maligno que acomete as células do fígado. O comprometimento do fígado por outros tumores localizados em diferentes partes do corpo é chamado de tumor maligno secundário do fígado ou câncer de fígado metastático.

O câncer do fígado é relativamente raro nos países desenvolvidos e bastante frequente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. É mais frequente em homens e em indivíduos acima dos 70 anos. Cerca de 2/3 dos cânceres de fígado ocorrem em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Pela sua alta letalidade, o câncer de fígado representa a segunda causa de mortes por câncer no mundo. No Brasil, não representa um dos dez cânceres mais frequentes na população masculina e feminina.

As hepatites virais B e C crônicas são os principais fatores relacionados à cirrose e ao câncer de fígado, correspondendo à maioria dos casos, seguidas pelo uso excessivo de álcool (alcoolismo crônico), hemocromatose hereditária, exposição a alguma toxina, infecção por certo parasito e determinadas doenças metabólicas.

Os sinais e sintomas mais comuns são nódulos ou endurecimentos na região do fígado, desconforto abdominal, aumento do volume abdominal, dor nas costas ou na região da escápula direita (omoplata direita), coloração amarelada da pele e mucosas, sangramento, cansaço e fraqueza, perda de apetite e emagrecimento.

Diferentes modalidades de exame podem ser utilizadas na investigação diagnóstica. Em geral, inicia-se com a coleta de uma boa história clínica e um minucioso exame clínico. Alguns exames de imagem, como US de abdômen, TC de abdômen e ressonância nuclear magnética (RNM), podem ser realizados. Exames de sangue, como provas de função hepática, e marcadores tumorais, como a alfa-feto-proteína são frequentemente realizados. A confirmação é feita com a realização de uma biópsia por agulha fina, ou agulha grossa, ou por incisão do tumor por meio de uma laparoscopia.

Existem diferentes sistemas de estadiamento para o câncer de fígado. Dois sistemas bem conhecidos são o sistema TNM da União Internacional para o Controle de Câncer (UICC) e o sistema de estadiamento do câncer de fígado da clínica Barcelona (BCLC). O sistema TNM classifica os tumores malignos do fígado entre estágios de I a IV. O estágio I é o mais inicial e o estágio IV é o mais avançado.

O sistema BCLC classifica os cânceres em 0, A, B, C e D. O sistema BLCL leva em consideração o tamanho do tumor, o estado clínico do paciente e a função do fígado. O estágio 0 é o mais inicial e o estágio D é o mais avançado.

Existem diferentes tipos de tratamento para o câncer primário do fígado. A escolha do tratamento vai depender do tamanho e da localização do tumor, do tipo e grau histológico, do estadiamento e do estado geral do paciente. Algumas modalidades de tratamento são as seguintes: cirurgia, transplante de fígado, terapia ablativa (remove ou destrói tecidos), terapia de embolização, terapia-alvo com agentes biológicos e radioterapia. Em algumas situações, os pacientes podem ser elegíveis para tratamentos experimentais, sendo incluídos em ensaios clínicos após consentimento esclarecido.

O prognóstico depende do tipo de câncer, do estadiamento do tumor, do grau de funcionamento do fígado e do estado geral de saúde do paciente. Quanto maior a extensão da doença e pior estado geral do paciente, pior o prognóstico. Em geral, os cânceres de fígado possuem mau prognóstico, com pouco mais de 10% de sobrevida em cinco anos em pacientes de países desenvolvidos.

A vacinação para hepatite B na população reduz o risco de infecção crônica, cirrose e, consequentemente, de hepatocarcinoma. Não há vacinas, no momento, para o vírus C, mas a regulação da utilização de sangue e hemoderivados pelos bancos de sangue e órgãos de vigilância sanitária reduziram significativamente os casos novos de hepatite C transmitidos por via transfusional.

Recomenda-se não consumir álcool em excesso.

Não há recomendação para a realização de rastreamento do câncer de fígado.