Câncer de ovário é a denominação genérica dos diferentes tipos de tumores malignos que afetam os ovários. Em sua maioria – em torno de 80% dos casos –, são tumores de linhagem epitelial do tecido ovariano, que chamamos de carcinomas.

Cistos são, por definição, alterações de natureza benigna e, assim sendo, não são passíveis de transformação maligna. Entretanto, é necessário advertir que, em alguns casos, os tumores malignos dos ovários podem se apresentar nos exames de imagem (ultrassom, tomografia, etc.) com aspecto de cistos, sendo, nessa circunstância, cistos de natureza complexa, heterogêneos e com componentes mistos, isto é, tanto sólidos quanto líquidos.

Alguns fatores de risco para tumores de ovário estão relacionados ao estímulo estrogênico durante longo prazo, como, por exemplo, nuliparidade (a mulher que não teve gestações), ou mesmo à idade avançada no nascimento do primeiro filho (acima de 35 anos). Também se enquadra nessa situação a terapia de reposição hormonal com estrogênio. A história familiar ou pessoal de câncer de ovário e/ou mama, assim como a presença de determinadas síndromes genéticas, é um importante fator de risco para a neoplasia de ovário.

A síndrome de ovários policísticos se relaciona com estimulação estrogênica por longo prazo e, portanto, também deve ser considerada como fator de risco.

Habitualmente, os sintomas do câncer de ovário são vagos e inespecíficos, tais como: dolorimento abdominal, sensação de inchaço no abdômen e plenitude após alimentação. Muitas vezes, quando eles surgem ou progridem de modo preocupante, pode significar que a doença já se encontra em estágio avançado.

A prevenção do câncer de ovário é muito difícil, já que a doença se instala e avança de modo silencioso, na maioria dos casos. Muitos estudos que visaram estabelecer quais medidas poderiam ser adotadas não conseguiram estabelecer até agora que meios poderiam ser utilizados para a prevenção ou a detecção precoce.

Estima-se que de 5% a 10% dos tumores malignos de ovário estejam relacionados com síndromes hereditárias, relacionadas com mutações dos genes BRCA 1 ou BRCA 2 e com a síndrome de Lynch (síndrome de câncer de cólon não polipoide hereditária). Essas alterações genéticas hereditárias podem predispor, nas famílias afetadas, a ocorrência de outros tumores, como câncer de mama, de endométrio, etc. Daí a importância de termos boas informações sobre a incidência de tumores também na história familiar.

Segundo alguns estudos, a pílula anticoncepcional tem caráter protetor em relação ao câncer de ovário.

Conforme já comentamos, a doença se instala e progride de modo a não produzir sinais e sintomas relevantes. Essa é a principal razão pela qual o tumor de ovário é diagnosticado em fases avançadas em 75% dos casos, em todo o mundo.

O diagnóstico é feito com base na avaliação clínica (história da doença e exame físico), complementado por exames laboratoriais e de imagem (ultrassom, tomografia, ressonância magnética). A cirurgia, no entanto, ocupa papel central no processo do diagnóstico, uma vez que é através dela que será feita a análise do material retirado (estudo histopatológico) e o estadiamento, isto é, o grau de disseminação da doença.

A maioria dos tumores malignos de ovário é constituída de carcinomas (80%). Os restantes 20% são tumores de linhagem germinativa, acometendo as faixas etárias mais jovens e, de modo geral, bastante sensíveis à quimioterapia. Outras neoplasias que podem afetar os ovários são constituídas por tumores de linhagem neuroendócrina, tumores de baixo grau de malignidade (tumores “border line”) e, por fim, por tumores provenientes de outra localização primária que acometem os ovários (doença metastática).

O tratamento de primeira linha é a cirurgia, que deve ser realizada por profissional bem treinado e apto a reduzir ao menor volume possível a doença. A seguir, de posse das análises feitas no material retirado e das informações quanto ao estadiamento da doença, será programado tratamento complementar com quimioterapia, que visa ao aumento da proteção contra a possível recidiva (tratamento adjuvante).

Nos casos de história familiar ou pessoal de tumores de mama, deve-se ter em mente a possibilidade da presença de síndromes hereditárias de mutação genética BRCA 1 e BRCA 2, que aumentam, de maneira muito importante, a incidência desses tumores. No caso de tumores malignos de ovário, essa probabilidade pode superar a faixa de 60%.

A cura do câncer de ovário está relacionada ao grau de avanço da doença (estadiamento) quando do seu diagnóstico. Infelizmente, como a doença tende a ser diagnosticada em fases avançadas, tal possibilidade costuma ser baixa na maioria dos casos.

Recentemente, foi incorporado ao conjunto de drogas disponíveis para tratar a doença um agente imunobiológico, isto é, que bloqueia a formação de novos vasos sanguíneos que nutrem o tumor e facilitam sua disseminação pelo organismo – o Bevacizumabe. Como se trata de uma medicação não quimioterápica, ela tem um perfil de toxicidade mais aceitável e é utilizada em conjunto com a quimioterapia tradicional e, a seguir, como tratamento de manutenção.

Acredita-se que tenhamos no Brasil, atualmente, cerca de 6.000 novos casos de câncer de ovário por ano.

Por Dr. Celso Rotstein, Oncologista do Americas Oncologia